Touradas: Tradição ou Tortura?

A tourada é um evento que consiste na lide de touros, a pé ou a cavalo. Típica de países como Espanha, Portugal, França e alguns países da América Latina, foi vista por muitos anos apenas como uma celebração da tradição e coragem.

Entretanto, com o passar dos anos, tivemos diversas evoluções no que se refere a este tema. De um lado, ainda existe quem defenda este evento como “tradição”, mas a crueldade animal é algo inegável na atualidade diante de diversas informações disponíveis.

Origem e História das Touradas

A tauromaquia, também conhecida como a “arte de lidar com touros”, tem uma origem controversa. Enquanto uns afirmam que esta foi trazida pelos muçulmanos no século VIII, outros entendem que é mais antiga, e surge como resultado de várias traduções.

Alguns documentos constatam que já no século XII eram realizadas touradas, que muitas vezes ocorriam como uma forma de celebração de eventos como vitórias militares ou ocasiões especiais da família real. Naquela época, os toureiros enfrentavam os touros a cavalo.

Já no início do século XX, havia em torno de 600 praças de touros na Espanha, consideradas arenas fechadas, geralmente circular e descoberta, onde se realizam touradas. Fato que demonstra a sua popularização. Algumas, como as de Madri e Barcelona, podiam abrigar até 20 mil pessoas. 

Este evento ocorre em um recinto público cercado, no qual toureiros e cavaleiros incitam um touro bravo a lutar até à morte, que pode ou não acontecer na arena. Embora tenha se tornado uma prática muito popular e sua realização sempre foi marcada por controvérsias, inclusive dentro da Igreja Católica. Em 1567, as touradas foram proibidas pelo Papa Pio V nos reinos católicos, considerando-as contrárias à piedade cristã. Além disso, e em várias ocasiões, a prática foi abolida em Portugal.

Apesar das proibições e das tentativas de eliminar as touradas em diversas épocas e ocasiões, a prática continuou a ser realizada, especialmente no período do Estado Novo. Durante esse regime, além de continuarem, eram promovidas. Entretanto, atualmente esse é um assunto amplamente diante da evidência do Direito Animal.

Tortura e Crueldade Animal 

O ponto principal da discussão sobre as touradas é o sofrimento prolongado do touro, que é atormentado de diversas maneiras antes de ser finalmente morto ou imobilizado na arena. Além disso, essa é considerada também uma prática perigosa, sem justificação ética ou moral, sendo defendida principalmente por interesses econômicos ou por aficionados que não reconhecem o sofrimento envolvido.

Durante 20 minutos, o animal sofre uma dor tremenda, uma vez que ocorre a inflição intencional de sofrimento extremo e prolongado a um ser sensível e indefeso, sem seu consentimento. Desse modo, o que ocorre é uma prática abusiva que termina com a morte lenta de um animal que está sempre ciente do que está acontecendo ao seu redor.

A dor física que essa prática causa nesses animais é clara, mas ela vai muito além. Estar na arena e ser desafiado produz medo e ansiedade no animal. Além disso, o transporte do pasto para a arena é outro estímulo estressante para os touros.

Soma-se a isso o estresse de serem isolados e deixados em currais por horas ou dias até serem introduzidos na arena. A mudança do ambiente físico e o contraste entre o isolamento e o barulho da arena também perturbam o animal.

Além do sofrimento imposto ao animal, as touradas também envolvem sérios riscos para os toureiros, que, ao enfrentarem o touro, colocam suas vidas em perigo. No entanto, o que deveria ser considerado um risco legítimo para a segurança do participante muitas vezes é transformado em um espetáculo sensacionalista, no qual os acidentes são vistos como parte do show. 

Avanços Legislativos

Não é de hoje que estamos tendo avanços legislativos nesse sentido. No estado espanhol, por exemplo, em 2006, a televisão pública já deixou de transmitir touradas pelo seu elevado custo e em função do horário diurno constituir um problema para as crianças que as podiam assistir. Já em em 2010 a Catalunha proibiu a realização de touradas e no mesmo ano foi lei, em todo o estado, que não podem assistir a touradas menores de 12 anos.

A tourada ainda é permitida na maior parte do Espanha, México e do Peru, assim como Portugal e França. Mas, mesmo nestes países a tendência é cada vez mais a opinião divergente a prática da tourada. Desse modo, há um certo desapreço pela atividade e as restrições à sua realização são cada vez maiores, tanto pela violência e risco a ela associados, como pelo sofrimento a que são sujeitos os animais envolvidos.

Diante disso, existem locais em que tivemos um certo avanço legislativo, sendo a tourada proibida por lei em alguns países latino-americanos. O Congresso da Colômbia, por exemplo, aprovou proibição de touradas após sete anos de tentativas. 

Desse modo, pode-se perceber que, ao longo dos anos, a sociedade tem avançado em sua compreensão sobre a temática. Entretanto, essa prática ainda levanta questões éticas e morais que exigem uma reflexão contínua sobre os direitos dos animais e sua proteção. Só assim, de fato, a tourada será repensada e, quem sabe, abolida de forma definitiva, em um contexto geral.