A Amazônia, maior bioma tropical do planeta, é um dos maiores pulmões do mundo e um patrimônio natural insubstituível. É considerada um conjunto de ecossistemas que envolve a bacia hidrográfica do Rio Amazonas, assim como a Floresta Amazônica.
Além da riqueza ambiental, neste patrimônio se concentra também uma sociodiversidade. Durante anos, povos nela foram se multiplicando aos milhares, constituíram complexas redes lingüísticas, intrincadas redes sociais e harmoniosos sistemas econômicos de trocas e fartura. Entretanto, a preservação de tudo que envolve a nossa conhecida Amazônia enfrenta constantes desafios, especialmente devido à expansão da pecuária.
O Brasil, um dos maiores produtores e exportadores de carne bovina do mundo, vive um paradoxo: ao mesmo tempo em que o país é considerado um líder no agronegócio, também carrega a responsabilidade de proteger vastos territórios indígenas e os ecossistemas vitais da Amazônia. O avanço da pecuária na região é, sem dúvida, um dos maiores impulsionadores de conflitos territoriais, colocando em risco tanto os direitos das populações indígenas quanto a saúde ambiental do bioma.
Muitas das populações que habitam a Amazônia estão em regiões com enorme potencial para a agricultura e a pecuária, o que faz com que seus territórios sejam alvos de grileiros, madeireiros e pecuaristas. A violência no campo, incluindo invasões de terras, ameaças e até assassinatos, tornou-se uma realidade cotidiana para líderes indígenas e defensores de direitos humanos.
Conforme dados do relatório “Conflitos no Campo 2021”, 52% dos conflitos por terra no Brasil, em 2021, ocorreram na Amazônia. Além disso, 97% das áreas de conflitos – quase 69 milhões de hectares – estão no bioma amazônico.
Nos últimos anos, o aumento do poder do agronegócio nas esferas políticas do Brasil tem ampliado o desrespeito às demarcações de terras indígenas. O governo atual tem adotado uma postura favorável à flexibilização das regras de demarcação de terras, o que tem gerado uma crescente pressão sobre os territórios indígenas. Esse cenário permite que a pecuária se expanda de forma desordenada, muitas vezes sem qualquer consideração pelos direitos territoriais das populações locais.
A ocupação irregular das terras indígenas, geralmente associada à pecuária, é uma das principais fontes de conflito. A pressão de fazendeiros para ampliar suas pastagens leva a violentos confrontos entre invasores e as comunidades indígenas, que buscam resistir e proteger suas terras, culturas e modos de vida. Além da violência física, há uma violência simbólica e histórica: o ataque sistemático ao modo de vida indígena, que depende diretamente da terra, dos rios e da floresta para sua sobrevivência.
A Amazônia é um patrimônio coletivo e, como tal, deve ser protegida em sua totalidade — em benefício dos povos indígenas e de todos os seres humanos que dependem da sua preservação. O Brasil tem uma responsabilidade histórica e moral de proteger seus povos originários e os ecossistemas únicos da floresta amazônica.