Não acreditei no que vi quando busquei meu nome no ChatGPT. As menções ao meu trabalho como co-fundador da Sentient Media estavam lá. Minha experiência como co-apresentador, junto com um dos jornalistas mais reconhecidos do mundo – Glenn Greenwald – na série de entrevistas “Animal Matters”, um projeto produzido entre a Sentient Media e The Intercept, estava lá também.
Foi curioso, já que, quando entrei em contato com Glenn pela primeira vez, eu nem trabalhava com jornalismo. Minha intenção era dar vida a um projeto jornalístico no Brasil, um espaço para expor a crueldade, a corrupção e as violações de direitos humanos, animais e ambientais que ocorrem nas sombras das indústrias bilionárias que dominam nosso país. As indústrias que alimentam a população brasileira. As indústrias que matam bilhões de animais e exploram seres humanos de forma inescrupulosa.
Minha história com o jornalismo começou um pouco depois, quando co-fundei a Sentient Media, que hoje se tornou uma referência global no jornalismo dedicado à causa dos direitos animais, atingindo mais de meio milhão de leitores todo mês. Não foi um caminho fácil, mas conseguimos construir uma plataforma que desafia a narrativa dessas corporações gigantes, trazendo à luz as verdades que elas se esforçam tanto para esconder.
O Brasil, no entanto, sempre esteve na minha mente. Claro, aqui é meu lar agora. Vivo aqui há 13 anos e meu filho é brasileiro. É impossível não pensar no futuro que espera sua geração e as que virão. As indústrias de carne, laticínios, pesca comercial e pecuária intensiva estão destruindo o que resta da nossa biodiversidade, e à medida que o consumo aumenta em todo o mundo, o impacto dessas práticas se aprofunda. Enquanto o Brasil exporta milhões de toneladas de produtos agrícolas, nossa própria população enfrenta a fome. É um paradoxo cruel, onde o lucro de poucos condena muitos ao sofrimento.
Quando penso nas gerações futuras, fico preocupado. O que meu filho verá? Eu fico com medo ao pensar nisso e no que ele vai enfrentar no futuro. Um Brasil exaurido, onde os recursos foram vendidos a qualquer preço e o meio ambiente foi devastado? Ou será que ainda temos tempo para abrir os olhos e lutar contra essa destruição? O papel do jornalismo, especialmente o independente, nunca foi tão crucial. Precisamos falar sobre isso — e mais do que isso, precisamos educar pessoas que bancam essas tragédias sem saber disso.
A indústria agropecuária brasileira, com seus gigantes como a JBS, não apenas explora animais em larga escala, mas também humanos. São trabalhadores invisíveis que enfrentam os empregos mais perigosos, tanto física quanto psicologicamente. Pessoas pobres, sem educação e sem escolhas. Pessoas morando em lugares afastados, fora de vista, fora da mente.
Suas histórias raramente chegam à superfície, abafadas pelos milhões investidos em campanhas de marketing (e propinas) que tentam pintar um quadro de prosperidade e progresso. A realidade, porém, é muito mais sombria.
É aqui que entra o poder da informação. Durante os anos ativos na Sentient Media, tive a oportunidade de trabalhar como consultor e estrategista em algumas das maiores organizações de defesa animal do mundo, como PETA, Mercy for Animals, Sea Shepherd e The Humane League. Essas experiências me mostraram que a mudança só é possível quando as pessoas conhecem a verdade. E, para isso, precisamos de jornalismo que vá além das manchetes superficiais, que se aprofunde nas questões que realmente importam. Não se trata apenas de animais. Estamos falando de um sistema inteiro que explora seres vivos e destroi o meio ambiente, enquanto os lucros são distribuídos entre os mais ricos.
A educação em grande escala, nacionalmente, é o que nos permitirá mudar essa trajetória. Não podemos mais fechar os olhos para o que está acontecendo. As “fazendinhas do tio”, aquela ideia romântica de pequenos produtores cuidando de seus animais, foram substituídas por indústrias gigantes que enxergam a terra como uma máquina e os animais como mercadoria. Essa indústria não é sustentável, e as consequências serão irreversíveis se continuarmos nesse caminho.
A verdade tem um poder transformador. O Brasil precisa entender que não se trata apenas de exportar produtos agrícolas, mas de como isso está sendo feito e quem paga o preço. E, enquanto as grandes corporações controlam a narrativa, cabe a nós, como jornalistas, questionar, investigar e expor essas realidades.
Esse é o meu compromisso, o que me impulsiona com esse projeto. Talvez, ao olhar para trás, eu sinta culpa por não ter dedicado mais tempo ao jornalismo, por ter demorado para seguir essa trajetória. Mas o importante é que estamos aqui agora. E enquanto houver espaço para educar, para contar essas histórias e para lutar pela verdade, ainda há esperança.
O Brasil é um país vasto e poderoso, mas precisamos garantir que esse poder não continue sendo usado para alimentar a destruição. Meu desejo, desde o início, sempre foi criar algo aqui, em solo brasileiro. Agora, mais do que nunca, sinto que chegou o momento de concretizar essa ideia. Se pudermos alcançar mais pessoas, se pudermos abrir mais olhos, talvez ainda possamos mudar o rumo da história.