A soja é o principal produto agrícola brasileiro, e se destaca não apenas pela sua importância econômica, mas também pelos desafios ambientais que seu cultivo traz.
A modernização dos métodos de plantio, o investimento em maquinário e tecnologia, e a expansão da cultura para novas regiões resultaram em um aumento significativo da produção.
Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja, com os ganhos desse cultivo representando 2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
No entanto, o grande desafio é desenvolver essa cultura sem comprometer a diversidade natural das áreas cultivadas.
O desmatamento é uma das principais preocupações relacionadas ao plantio da soja, mas não é o único problema ambiental. Temos também, a utilização de agrotóxicos e o cultivo de variedades transgênicas como fatores que pioram a degradação do solo e dificultam o reequilíbrio dos ecossistemas locais.
Assim, temos que a soja representa tanto uma oportunidade quanto um desafio para o Brasil, necessitando de uma abordagem muito bem arquitetada que concilie o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental.
Cultivo de soja no mundo

A soja é um alimento muito versátil, sendo utilizada na produção de diversos outros alimentos, como por exemplo óleo, proteína vegetal, base para ração animal, etc.
Trata-se de uma das culturas mais cultivadas no mundo devido a sua versatilidade e alto valor nutricional.
A maior parte da soja produzida no mundo é exportada, sendo que aproximadamente dois terços são destinados ao mercado externo, principalmente para a China e os EUA.
Além disso, os Estados Unidos não são apenas um dos maiores importadores, mas também um dos maiores exportadores mundiais, ficando, no entanto, atrás do Brasil.
A demanda global por soja tem impulsionado a expansão de áreas cultiváveis, muitas vezes à custa de florestas e outros ecossistemas naturais.
Histórico e expansão do cultivo de soja
O cultivo de soja é uma prática antiga, com início há mais de 3000 anos, na China.
A soja era uma planta rasteira e o grão cultivado nessa época era bastante diferente do que conhecemos hoje.
A evolução da soja começou com plantas resultantes de cruzamentos naturais entre duas espécies selvagens, que depois foram domesticadas e melhoradas por cientistas da antiga China.
Os antigos consideravam a soja um grão sagrado, assim como o arroz, o trigo e a cevada.
Algumas referências à soja são ainda mais antigas, remontando ao “Livro de Odes”, publicado em chinês arcaico.
O cultivo comercial teve início nos primeiros anos do século XX nos Estados Unidos. Após o final da Primeira Guerra Mundial, em 1919, o grão de soja se tornou um item de comércio exterior importante.
Nas últimas décadas, a América do Sul também se destacou, se tornando um importante polo de produção, sobretudo o Brasil e a Argentina.
Entretanto, a alta demanda pelo grão e alta expansão e produtividade, tem sido marcada pelo desmatamento e destruição de terras nativas.
Principais países produtores de soja
Os principais produtores de soja são o Brasil, os Estados Unidos, a Argentina e a China. Juntos, esses países representam mais de 85% da produção mundial de soja. O Brasil, em particular, se destacou nos últimos anos, ultrapassando os Estados Unidos como o maior produtor mundial.
Brasil
Em 2023, o Brasil teve uma produção de cerca de 163 milhões de toneladas. Assim, o país tem o título de maior produtor e leva o título de líder mundial no setor do cultivo de soja.
Isso se dá por fatores como: grandes extensões de terras aráveis e clima favorável.
A soja impulsiona de maneira significativa a economia do país, mas é necessário avaliar os danos que causa ao meio ambiente e o impacto disso na manutenção da vida.
Estados Unidos
Os Estados Unidos tem uma longa história no cultivo de soja, e costumavam ser os líderes mundiais nesse setor. Entretanto, foi ultrapassado pelo Brasil nos últimos anos, devido a desafios climáticos recentes que afetaram sua produção.
Ainda assim, a soja é um dos principais produtos exportados dos EUA e contribui significativamente para a economia do país.
Argentina
A Argentina vem apresentando um crescimento significativo e constante na produção de soja, sendo outro país sul-americano com um cultivo do grão bem significativo.
O país tem investido em práticas agrícolas sustentáveis e possui políticas favoráveis e incentivos que chamam a atenção de produtores rurais.
China
A China não é o maior exportador de soja do mundo, mas se posiciona como o maior importador de soja do mundo. A demanda do país é grande e isso vem servindo de motivação para colocarem esforços no aumento da produção interna.
A soja tem um grande impacto na economia da China, influenciando os preços dos alimentos e as relações comerciais e, por isso, é uma grande oportunidade para o produtor chinês atender essa demanda e diminuir a dependência das importações.
Cultivo de soja no Brasil

Os japoneses trouxeram a soja para o Brasil em 1908.
Entretanto, na década de 70, a alta demanda pelo grão e as necessidades impostas pelo mercado mundial, tornaram o cultivo de soja no Brasil uma realidade.
Assim, na década de 90, a soja ganhou lugar de destaque como principal produto cultivado no país.
Desde o início, o mercado externo, por meio de sua pressão e imposição, tem controlado indiretamente o que o Brasil produz, direcionando a produção de soja para exportação, em vez de atender ao mercado interno.
Hoje, o Brasil está à frente da produção mundial de soja, batendo recorde em 2023 com a produção de 100 milhões de toneladas do grão. O estado do Mato Grosso é o maior produtor e exportador de soja do Brasil, chegando a exportar 39 milhões de toneladas na safra de 2023/24.
Essa expansão agrícola tem o seu ônus, já que está associada a impactos ambientais significativos. O desmatamento que acontece para plantio de soja, não afeta só a biodiversidade e o clima, mas também gera muitos conflitos sociais por disputa de terras, crimes contra ativistas e violações de direitos de comunidades locais.
Como funciona o cultivo de soja

O cultivo de soja envolve várias etapas, desde a preparação do solo até a colheita.
A primeira etapa é a semeadura, e a última é a colheita.
É importante que que os produtores prestem atenção a cada etapa para aumentar a produtividade de suas lavouras.
Cobertura do Solo
Cobrir o solo visa reter a umidade e reduzir a incidência de plantas daninhas.
Além disso é recomendado um sistema de sucessão e rotação de culturas.
De acordo com a Embrapa, as espécies ideais para cobertura do solo são aquelas que produzem grandes quantidades de massa seca, têm uma relação carbono/nitrogênio elevada e uma baixa taxa de decomposição.
Entre as principais opções destacam-se sorgo, milheto, aveia e milho, especialmente no Cerrado brasileiro.
Adubação e Correção do Solo
Antes do plantio, aduba-se o solo. Esse processo começa com a análise do solo, seguida pela correção da acidez e pela aplicação de fertilizantes.
A adubação tem como objetivo adicionar ao solo os nutrientes necessários que não estão presentes em quantidade suficiente. Por sua vez, a correção do solo é feita através da calagem, que eleva o pH do solo, além de eliminar o efeito tóxico de elementos como alumínio e manganês e aumentar a disponibilidade de nutrientes e a atividade microbiana.
Semeadura da Soja
A semeadura requer cuidados específicos, como por exemplo, a temperatura do solo (idealmente entre 20ºC e 30ºC) e as condições climáticas, especialmente as chuvas, que determinam a melhor época para o plantio.
A profundidade da semeadura deve variar entre 3 e 5 centímetros. Além disso, a escolha das cultivares deve considerar a adaptação à região, facilitando a logística da colheita e reduzindo pragas e doenças.
Manejo da Lavoura
O manejo adequado da lavoura é importante para a produtividade. Por isso, é preciso monitorar o desenvolvimento da lavoura desde a semeadura até a colheita, prevenindo a incidência de pragas, plantas daninhas e doenças.
Colheita
A colheita é a última etapa do cultivo de soja. Quando as plantas se aproximam da maturação, as folhas amarelam e caem, enquanto as sementes perdem umidade.
Inicia-se a colheita quando cerca de 95% das vagens estão marrons ou cinzas. Colher a soja com um teor de umidade entre 13% e 15% ajuda a reduzir problemas mecânicos e perdas.
Qual é o principal destino de toda a soja produzida?

É um equívoco pensar que a soja é produzida para produção de alimentos à base de plantas, como tofu.
Na verdade, chega a ser cômico considerar que um percentual tão baixo da população que tem uma alimentação à base de plantas, seria responsável pela degradação de áreas imensas para produção da monocultura da soja.
Na realidade, a grande maioria da soja é cultivada para ração animal, sendo seu principal uso para alimentação de aves, suínos e gado, que irão virar alimento para a população.
Sendo assim, ao invés de alimentar pessoas, essas culturas alimentam bilhões de galinhas, vacas, porcos e outros animais que vivem e morrem em fábricas de criação.
Impactos ambientais do cultivo de soja

A soja é uma das principais culturas agrícolas do Brasil e desempenha um papel significativo na economia do país.
No entanto, o cultivo intensivo e em larga escala de soja, caracterizado pela monocultura, causa diversos impactos negativos no solo, comprometendo a sustentabilidade.
Assim, a monocultura de soja tem como consequência a degradação do solo, perda de biodiversidade, aumento da erosão, contaminação por agroquímicos e diminuição da fertilidade natural do solo.
Degradação do Solo
A monocultura de soja contribui para a degradação do solo de diversas formas.
O cultivo contínuo da mesma cultura esgota os nutrientes do solo, uma vez que a soja consome grandes quantidades de nutrientes específicos, como nitrogênio, fósforo e potássio.
Dessa forma, sem a rotação de culturas, que poderia ajudar a repor esses nutrientes, o solo fica progressivamente menos fértil, necessitando de doses cada vez maiores de fertilizantes químicos para manter a produtividade.
Perda de Biodiversidade
A prática da monocultura também leva à perda de biodiversidade do solo.
Isso porque, a presença de uma única espécie de planta em grandes áreas acaba com a diversidade vegetal que é essencial para um ecossistema saudável.
A biodiversidade do solo, composta por diferentes plantas, microrganismos e outros organismos, é indispensável para a manutenção de um solo fértil e resiliente.
Sendo assim, a ausência dessa diversidade faz com que o solo fique mais suscetível a pragas e doenças, que se proliferam mais facilmente quando há uma única cultura predominante.
Aumento da Erosão
A soja, como outras culturas de grãos, pode deixar o solo exposto entre as safras, especialmente quando práticas de manejo inadequadas são empregadas.
A erosão tira a camada superficial do solo, que é a mais rica em matéria orgânica e nutrientes e que é essencial para o crescimento das plantas.
Por conseqüência, a perda dessa camada leva a uma redução significativa da produtividade agrícola e a necessidade de uso mais intensivo de fertilizantes.
Contaminação por Agroquímicos
O cultivo de soja em larga escala depende do uso intensivo de agroquímicos, como fertilizantes sintéticos, herbicidas e pesticidas.
No entanto, o uso excessivo desses produtos leva à contaminação do solo e das águas, causando impactos ambientais e de saúde pública.
Além disso, produtos químicos como o glifosato, muito utilizado no cultivo de soja transgênica, têm sido associados à degradação da qualidade do solo, afetando negativamente a microbiota do solo e a sua capacidade de sustentar plantas saudáveis.
Diminuição da Fertilidade Natural do Solo
A fertilidade do solo depende de sua estrutura, da presença de matéria orgânica e de microrganismos benéficos.
A monocultura da soja reduz a matéria orgânica do solo, porque frequentemente há remoção dos resíduos da colheita, resíduos esses que poderiam se decompor e enriquecer o solo.
Além disso, a estrutura do solo é alterada e prejudicada devido ao uso intenso de máquinas agrícolas que deterioram o solo, dificultando a penetração das raízes e a circulação de água e ar, fundamentais para a saúde das plantas.
O que podemos fazer em relação ao impacto ambiental negativo do cultivo de soja?
Reduzir o consumo de carne: Reduzir o consumo de carne e produtos de origem animal é uma das formas mais eficazes de diminuir a demanda por ração animal e, consequentemente, o impacto ambiental da criação industrial.
Apoiar a agricultura regenerativa: A agricultura regenerativa é uma abordagem que tem como objetivo restaurar e melhorar a saúde dos solos, aumentando a biodiversidade e sequestrando carbono. Apoiar práticas agrícolas sustentáveis pode repromover sistemas alimentares mais resilientes.
Optar por proteínas alternativas: Consumir proteínas alternativas, como proteínas vegetais ou carne cultivada em laboratório, pode ajudar a diminuir a demanda por carne.
Educação e conscientização: Aumentar a conscientização sobre os impactos ambientais e éticos da criação industrial e da ração animal pode incentivar mudanças de comportamento e políticas que promovam um sistema alimentar mais sustentável e ético.
Conclusão
O cultivo de soja, embora benéfico para a economia global, apresenta desafios ambientais graves. A necessidade de práticas agrícolas mais sustentáveis é urgente para controlar e cessar os impactos negativos sobre o solo, a biodiversidade e o clima. A adoção de abordagens agroecológicas pode ser um caminho interessante para equilibrar a produção de soja com a preservação ambiental.