Pecuária e Crise Hídrica: O Consumo Excessivo de Água nas Indústrias de Carne

As secas prolongadas, redução dos níveis dos reservatórios e, em algumas regiões, o racionamento de água estão constantemente nas manchetes jornalísticas. E esta situação alarmante está completamente interligada a crise hídrica que o país vem enfrentando.

O que não se fala muito é sobre um dos maiores vilões dessa problemática: o consumo excessivo de água pela indústria agropecuária, em particular pela pecuária de corte. 

Embora a água seja um recurso essencial para todas as atividades humanas e naturais, a quantidade de água consumida pelas indústrias de carne no Brasil, um dos maiores produtores e exportadores desse produto, tem implicações não só para o meio ambiente, mas também para a sustentabilidade das gerações futuras.

Conforme estudo que cita a FAO (Food and Agriculture Organization), são necessários em média de 15 mil litros de água para produzir cada quilo de carne bovina. Esse número inclui a água consumida pelo animal durante sua vida (para beber e para a produção de leite, caso seja leiteiro antes de ser abatido), assim como a água utilizada na produção de ração, na irrigação de pastagens, no processamento da carne e no transporte. 

A relação entre a pecuária e a crise hídrica no Brasil não é apenas uma questão de consumo direto de água, mas também de impactos indiretos. O desmatamento, em grande parte impulsionado pela expansão da pecuária, altera o ciclo hidrológico local. 

A derrubada de florestas para abrir espaço para pastagens diminui a capacidade de evapotranspiração das árvores, processo natural responsável pela liberação de vapor d’água na atmosfera e pela formação das chuvas. A destruição das florestas impacta diretamente o regime de precipitação e pode agravar a escassez hídrica em várias regiões.

Além disso, a pecuária em áreas de pastagem extensiva, com uso de rações que requerem grande quantidade de água para a produção de grãos como soja e milho, contribui para um ciclo de uso insustentável dos recursos hídricos. 

A soja necessita de 450 a 800 mm de água por ciclo, com média de 620 mm. O volume de água depende da cultivar escolhida e da duração do ciclo. O milho de ciclo médio, por sua vez, consome cerca de 400 a 700 mm de água por ciclo. Desse modo, para produzir 1 kg de soja são utilizados em média 1.388 L de água, enquanto para 1 kg de milho são usados 693 L de água. 

Assim, deixar de consumir ou diminuir o consumo de produtos de origem animal pode vir a ser uma necessidade no contexto do previsível agravamento das secas e crises hídricas e da dificuldade crescente de obtenção de água para produção de alimentos. 

A busca por alternativas sustentáveis, tanto no campo quanto nas escolhas de consumo, é imperativa para garantir que as futuras gerações tenham acesso a esse recurso vital. O futuro do Brasil e do mundo dependerá da capacidade de conciliar a produção de alimentos com a preservação do meio ambiente e o uso responsável dos recursos naturais.

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