No ano de 2023, o Brasil registrou seu quarto recorde consecutivo nas emissões de gases do efeito estufa provenientes da agropecuária, consolidando esse setor como responsável por 74% das emissões.
Isso é alarmante por diversos motivos. A pecuária, particularmente a criação de bovinos, está diretamente ligada ao desmatamento, à degradação de solos e à emissão de gases extremamente prejudiciais ao planeta, como o metano, resultante da digestão dos animais.
Se o Brasil está caminhando rumo à catástrofe ambiental, muito se deve à manutenção de um modelo agrícola que, ao invés de se reinventar, continua devastando ecossistemas e colocando em risco a estabilidade climática global.
Mesmo com a queda de 12% nas emissões globais brasileiras em 2023, resultado principalmente da redução do desmatamento na Amazônia, a agropecuária apresentou um aumento de 2,2% nas emissões.
Foram lançadas na atmosfera 631 milhões de toneladas de CO2, o que reforça a ideia de que enquanto medidas não forem tomadas para frear essa atividade, a luta contra as mudanças climáticas será perdida.
A Agropecuária e a Destruição dos Ecossistemas Brasileiros
A criação de gado bovino no Brasil está diretamente associada à destruição de florestas nativas, sobretudo na Amazônia e no Cerrado.
A demanda crescente por carne bovina e derivados leva à conversão de áreas florestais em pastagens, o que resulta não apenas na perda da biodiversidade, mas também na grande liberação de carbono armazenado no solo e nas árvores.
Em 2023, enquanto o desmatamento na Amazônia foi reduzido, biomas como o Cerrado, Pantanal e Caatinga viram um aumento nas emissões de gases do efeito estufa devido à conversão de vegetação nativa.
No Pantanal, as emissões cresceram impressionantes 86%, um sinal claro de que o problema não se restringe a um único bioma, mas afeta todo o território nacional.
Com a expansão da agropecuária, estamos incentivando a destruição de ecossistemas essenciais para a regulação do clima e para a manutenção da vida selvagem.
Essas áreas são cruciais para a captura de carbono e para a estabilidade hídrica do país, fatores que têm sido ignorados em prol da lucratividade de um setor que beneficia poucos à custa da degradação ambiental.
A própria Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) já declarou que a agropecuária é uma das principais responsáveis pela destruição de ecossistemas e pela emissão de gases poluentes, especialmente o metano.
O Metano: O Vilão Invisível da Pecuária
Grande parte das emissões de gases de efeito estufa geradas pela pecuária vem do metano, um gás que, embora permaneça menos tempo na atmosfera do que o dióxido de carbono, é significativamente mais potente em termos de aquecimento global.
A digestão dos ruminantes, processo conhecido como fermentação entérica, é a maior fonte de metano no Brasil.
Em 2023, a fermentação entérica foi responsável por 405 milhões de toneladas de CO2 equivalente, mais do que a emissão total de países como a Itália.
Isso significa que o simples ato de criar gado, que é alimentado de maneira intensiva para atender à demanda por carne, está gerando emissões em uma escala globalmente significativa.
Defensores da agropecuária “sustentável” argumentam que mudanças na alimentação dos animais ou na forma de manejo poderiam reduzir essas emissões.
No entanto, a realidade é que qualquer produção em larga escala de carne bovina resulta em enormes quantidades de metano, além de outros impactos ambientais, como o uso massivo de água e o desmatamento contínuo.
Uma Atividade Incompatível com o Futuro
Enquanto o mundo clama por ações mais ousadas para conter as mudanças climáticas, o Brasil segue na contramão ao continuar investindo em um setor destrutivo como a agropecuária.
Ao somar as emissões desse setor com as causadas pelo desmatamento para expansão das atividades agropecuárias, conclui-se que essa atividade representa uma ameaça existencial à saúde do planeta.
Estamos destruindo florestas, aquecendo a atmosfera, e comprometendo a capacidade do planeta de se autorregular.
O foco das políticas climáticas brasileiras precisa mudar.
Incentivar soluções paliativas que perpetuem a criação de gado apenas prolonga o problema.
O que o Brasil e o mundo precisam é de um sistema de produção de alimentos que respeite os limites planetários, preservando os ecossistemas e reduzindo as emissões a níveis que permitam a regeneração do clima.
Em 2023, o Brasil teve uma oportunidade de ouro ao reduzir suas emissões totais graças à diminuição do desmatamento na Amazônia.
Entretando, essa vitória parcial não deve abafar o fato de que, enquanto a agropecuária continuar crescendo, as metas climáticas do país estarão ameaçadas.