COP29: A Oportunidade Perdida de Repensar o Sistema Alimentar Global

A 29ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, ou COP29 como é mais conhecida, aconteceu esse ano em Baku, do dia 11 ao dia 22 de novembro. 

Essa conferência ocorre para que os países discutam sobre as mudanças climáticas e quais medidas adotar para mitigá-las.

Apesar da grande responsabilidade dos sistemas alimentares sobre as emissões de gases de efeito estufa, essa pauta costuma ocupar um espaço de pouco destaque no evento. 

Foi assim na COP29, e foi assim em conferências anteriores também.

Há uma falha nos pontos de discussão quando se trata de propor mudanças estruturais que são fundamentais, como a transição para dietas mais sustentáveis. 

Isso evidencia, e muito, o desequilíbrio entre o discurso das nações em querer mitigar as mudanças climáticas, e falta de ação em esferas que contribuem significativamente para isso.

A Relação Entre Alimentação e Crise Climática

A maneira como produzimos os alimentos é responsável por, aproximadamente, 33% das emissões globais de gases de efeito estufa, sendo que a pecuária representa 16,5% dessas emissões

Esses dados são bem conhecidos e divulgados por diversos estudos, mas ainda assim as soluções discutidas na COP29 não abordaram esse ângulo, que é simplesmente a raiz do problema das mudanças climáticas. 

É urgente discutir sobre o consumo excessivo de carne e a dependência dos sistemas intensivos de criação de animais.

Na COP28, a alimentação entrou como pauta das discussões, mas deixou a desejar quando as medidas propostas não acompanharam esse discurso. 

Isso só demonstra o poder de lobbies da indústria da carne e da agricultura em controlar as políticas globais, mesmo que para isso seja sacrificado a sustentabilidade e a própria pauta dessas conferências, que é a crise climática.

O Papel dos Lobbies na Narrativa da Sustentabilidade

Organizações como a U.S. Farmers and Ranchers in Action (USFRA) e o Council for Agricultural Science and Technology (CAST) apresentaram na COP29 relatórios que promovem a ideia de que práticas regenerativas e novas tecnologias podem transformar a agricultura, incluindo a pecuária, em uma solução climática. 

Mesmo que práticas regenerativas sejam benéficas em alguns casos, quando falamos disso em um contexto de larga escala temos sérias limitações.

Além disso, a capacidade do solo de sequestrar carbono, ainda que útil, é frequentemente superestimada.

Essas propostas frequentemente ignoram alternativas mais eficazes, como a restauração de ecossistemas naturais (rewilding). Estudos mostram que reverter terras agrícolas para ecossistemas naturais pode capturar carbono de maneira significativamente mais eficiente do que manter terras para pastagem.

A Necessidade de Mudanças Dietéticas Globais

O consumo de carne per capita é muito alto em várias regiões do mundo, principalmente nos países emergentes, enquanto em países de alta renda as taxas permanecem elevadas.

Quando falamos de dietas baseadas em vegetais, temos um impacto ambiental significativamente menor, mas a falta de iniciativas concretas para promover essas mudanças evidencia um tabu político. 

A ausência de propostas na COP29 para reformular o padrão alimentar vigente, contrasta com a urgência do problema. 

Promover mudanças no padrão dietético não significa apenas educar as pessoas, mas também reformular as estruturas que sustentam essa cultura do consumo de carne. Isso inclui os subsídios, as campanhas publicitárias e as normas culturais profundamente enraizadas.

Países que liderarem esse movimento podem criar um efeito cascata, inspirando mudanças globais.

Propostas para o Futuro

Para que futuras COPs sejam eficazes em tratar a crise climática, é essencial:

  1. Reformar políticas agrícolas globais: Reduzir subsídios à pecuária e redirecioná-los para práticas regenerativas e restauração de ecossistemas.
  2. Incorporar mudanças dietéticas nos planos climáticos: Promover políticas públicas que incentivem o consumo de alimentos baseados em vegetais.
  3. Enfrentar a influência dos lobbies: Reduzir a dependência de informações provenientes de relatórios de organizações com interesses financeiros diretos no status quo.
  4. Priorizar a educação global: Investir em campanhas que conectem escolhas alimentares aos impactos climáticos.

A COP29 foi mais uma oportunidade perdida para conectar os sistemas alimentares globais às metas climáticas. 

Até que mudanças dietéticas sejam colocadas no centro das discussões, essas conferências continuarão a produzir mais promessas do que ações concretas. 

A crise climática exige um realinhamento fundamental de nossas prioridades, onde o consumo de carne e os interesses econômicos da indústria pecuária não sejam mais os elefantes na sala.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Apoie o New Narrative

Ajude a nossa organização doando hoje! Todas as doações vão diretamente para fazer a diferença por nossa causa.

Apoie o New Narrative

Ajude a nossa organização doando hoje! Todas as doações vão diretamente para fazer a diferença por nossa causa.

plugins premium WordPress